domingo, 28 de outubro de 2012

Mostarda, alfajores e Hepatite C


Se você conhece o inimigo e conhece a si mesmo, não precisa temer o resultado de cem batalhas.
 (Sun Tzu)

   Agora só faltam 5 meses! 
   Com esta constatação "positiva" enfrentei minha quarta injeção de Interferon, uma das armas que disponho para enfrentar o "flavivírus", vírus da Hepatite C. O tratamento será de 6 meses. Quando pensei que "só" faltam cinco meses, agora, lembrei do cara que despencava do 20º andar de um prédio e ao passar pelo 5º pensou: - até aqui vai tudo bem!
   É uma luta de vida e morte, realmente. Quando digo isso, não estou propagandeando a minha capacidade de enfrentar situações adversas nem a exibir coragem. Apenas tento relatar o dia a dia de uma luta contra a morte, como uma forma de enfrentar esse vírus letal.

HEPATITE C MATA!

   Saber que tenho circulando pelo meu sangue um vírus que se multiplica rápida e constantemente atacando o meu fígado, necrosando-o até levá-lo à cirrose e ao câncer, não é uma boa coisa. Ficar inerte a isso também não! É necessário reagir, não só com os remédios mas com atitudes de enfrentamento e combate. Acredito que o primeiro passo para o enfrentamento seja o conhecimento da doença. Me preparei para isso. Busquei na literatura médica todas as informações sobre o meu inimigo e quais as melhores formas de combatê-lo. Me imagino preparado!

   O embate
    O conhecimento do inimigo, o uso das armas corretas para combatê-lo e manter a "moral da tropa" elevada, são condições fundamentais para se vencer a batalha. A questão de manter a moral elevada, não sucumbir aos ataques e aos efeitos colaterais dos remédio é uma coisa complicada.
   Os remédios - Interferon Peguilado e Ribavirina - são fortes e produzem efeitos colaterais também fortes no organismo. O medo dos efeitos colaterais, principalmente do Interferon, é um dos grandes problemas para pacientes que vão iniciar o tratamento.
   O medo é uma arma a favor da doença. Outro problema é o enfrentamento público de se assumir a doença. A carga de preconceitos em relação à Hepatite C se assemelha à da Aids. Esconder que se é portador do Flavivírus não ajuda em nada no tratamento.
   A Aids ainda é a doença que mais preocupa quando se fala em doenças sexualmente transmissíveis. Mas a Hepatite C deveria receber uma atenção especial neste momento. É epidemia mundial.
   Estudos feitos nos Estados Unidos comprovam que a Hepatite C mata mais que a Aids hoje em dia. No mundo, morre uma pessoa a cada 30 segundos, infectada com Hepatite C.

   Fechando o mês
    Bem, o fechamento de um mês de tratamento foi comemorado com alfajores Havana e mostarda de Dijon. É...a mistura parece esquisitam mas foram regalitos que trouxe de Buenos Aires para presentear a meninas da equipe de enfermeiras, ténicas em enfermagem, farmacêutica, estagiaria e médica, que me trata no hospital Nereu Ramos.
   Vou até lá uma vez por semana para tomar o Interferon, a Ribavirina tomo diariamente em casa. O ambiente do ambulatório é extremamente agradável, por incrível que isso possa parecer. Hospital, a princípio, não deveria ser uma coisa agradável.
   A equipe que me atende é composta de pessoas atenciosas, simpáticas e me tratam com carinho, longe da frieza técnica que caracteriza os atendimentos da saúde em todo o país.

   Só bronquite
   Hospital é lugar de problemas. Doenças, acidentes e dores. No geral, o humor de pacientes hospitalares não é dos melhores, na verdade é dos piores!
   Nesta última ida ao ambulatório presenciei uma cena interessante. Quando cheguei na sala de espera o stress já corria solto. Um senhor, magro, alto, em tratamento também, falava alterado, reclamava de confusão de datas e injeções e dirigia suas grosserias para a enfermeira chefe. A profissional tentava acalmá-lo e tirar suas dúvidas a respeito de algum procedimento mal compreendido.
   Como diria a Zoara Yonara: - Difícil prá aquarius!
   
   Comecei a observar as atitudes da pessoa e percebi que estava entupido de química e eram os remédios que estavam ali se manifestando. Assisti ao Interferon se apresentando na sua melhor perfomance. Um horror!
   Cada vez mais irritado, o paciente impaciente, distribuia impropérios, agora, para toda a equipe de atendentes. Percebi a importância de se saber que, principalmente, o Interferon, nos deixa irritados, exacerbados e com baixa tolerância. Sem dúvida que muita coisa também vai do temperamento de cada pessoa. Se já é estressado, provavelmente terá esse defeito ampliado. Mas não se conhecer e muito menos os efeitos colaterias do remédio, nos leva a sucumbir à química.
   Uma roubada!
   Diante do show acabei me envolvendo emocionalmente na história. Tomei partido a favor da equipe agredida, comecei a achar que o paciente já estava passando dos limites e, liberando minha parcela de irritação proveniente do Interferon pensei:

- Um cara desses, ou tu dá um tapa ou tu perdoa!
Resolvi perdoar! 
Agora só faltam 5 meses!

Um comentário:

  1. Vai ser fácil, Sergio. Só o começinho é chato. E se dê por feliz! Acabei um tratamento destes em agôsto com duração de um ano! Um ano em razão do genótipo do meu vírus ser do tipo 1. Mas negativei! É. Mas acabraram-se as cervejinhas do final da tarde, após o expediente, etc. E por outro lado, para mim foi ótimo. Como parei de beber, aproveitei e parei de fumar também, (risos). É mais fácil, já que não há a dependência cruzada. Com 55 anos, ainda dá tempo para muita coisa. Forte abraço e bem vindo "nova casa"!

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