quinta-feira, 11 de outubro de 2012
Figueiredo apresenta a fatura! Pôrra!
Sempre gostei de bebidas e festas, em geral. A noite, o dia e a manhã sempre foram os meus tempos preferidos para beber, jogar, conversar com amigos, fazer novos amigos e escutar boa música. A segunda-feira sempre foi a minha preferida. Coisa de profi, dizem.
Sou boêmios desde guri. Nunca deixei barato. Bebia muito, falava muito, dormia pouco e acordava cedo, sempre. Nunca tive ressaca e dor de cabeça não sei o que é.
É claro que em algum momento da vida isso teria uma consequência. Ninguém passa impune por uma vida maravilhosa de festas, bebidas e Rock and Roll. A vida talvez tenha uma pontinha de inveja desses personagens que conseguem extrapolar as medidas normais de pressão e temperatura.
O Bicho
Há alguns anos descobri que tinha Hepatite "C". O bicho estava ali, quieto. É matreiro, silencioso e traiçoeiro. Não deixei barato. Comecei a fazer controle a cada 6 meses. Tenho um "gastro" maravilhoso. Além de gastroenterologista dos bons, é meu "analista". Como falo pelos cotovelos e ele me ouve, está tudo ótimo.
Não foram poucas as vezes que frente à uma bateria de exames que mostravam o meu figueiredo(figueiredo era como o meu querido amigo jornalista, José Antonio "Gago" Ribeiro, alcunhava o poderoso fígado) em perfeitas condições, o meu médico me intimou:
- Canga, vamos parar de beber e começar o tratamento para matar esse virus?
- Aplique a fórmula doutor, dizia eu.
A fórmula eu havia criado. Consistia em calcular, mais ou menos, em quanto tempo o bicholiquidaria o meu figado se despertasse naquele dia. Como o fígado estava preservado, bonitaço, o tempo variava de 20 a 25 anos. Daí então eu optava por continuar a maravilhosa rotina de festas como se a vida fosse acabar amanhã. Daqui há pouco alguma droga nova, mais eficiente e sem os temíveis efeitos colaterais do Interferom/Ribavirina, será descoberta e daí então eu combato o bicho.
Fazia uma biópsia a cada 4 anos para ter certeza de que o vírus continuava latente e o "figueiredo" preservado. Pois agora, dia 3 de abril recebi o resultado da última biópsia e levei um baita susto.
- Desta vez não tem como aplicar a fórmula, me disse o médico.
O bicho tinha acordado e com uma voracidade incrível. Ameaçava o figueiredo como se o mundo fosse acabar amanhã. Mala!
Outra dimensão
Recebi a notícia e foi aquela divisão na realidade. Imediatamente me veio à cabeça um monte de consequências nefastas, para mim, de parar de beber. Toda a minha vida social e profissional é feita em mesa de bar. O meu escritório fica dentro da Kibelândia, o bar mais antigo e tradicional de Florianópolis. O Cangablog é feito ali dentro. Não são poucas as pessoas que recebo ali, diariamente, com informações, documentos e denúncias para colocar no blog. O escritório funciona maravilhosamente bem em meio a amigos, conversas, informações, negócios, alegria e muita cerveja.
Tudo isso teria que mudar! Ou não?
Como sou radical e compulsivo, verbalizei o diagnóstico da biópsia incluindo palavras como cirrose, nódulos e câncer no fígado. O efeito social da notícia foi desastroso. Amigos começaram a ligar e a família, reunida em conselho, decidiu que iria à próxima consulta em bloco. O consultório do Dr. Paulo nunca estaria tão cheio. Um sucesso!
A despedida
Frente à tão sinistra notícia resolvi fazer uma despedida. Tinha decidido parar de beber e começar, finalmente, o tal tratamento para matar o bicho da Hepatite C. Havia chegado recentemente do Chile e a minha adega estava bombando de bons vinhos, fora whiskey e outras bebidas menores. Resolvi que liquidaria com tudo e, então, pararia de beber, embora o tratamento só começasse dali há um mês.
Um churrasco de despedida reuniu a familia - filhos, irmão, genro, neta, alguns amigos e a Gisa - a coisa ia de vento em popa. Paleta de ovelha, porco, choripan, morrones rellenos e bebida a rodo. Lá pelas tantas, de tanto ouvir falar que parar de beber deixa a pessoa irritada, com os nervos à flor da pele, acabei me irritando com uma bobagem qualquer e abandonei a festa em direção à Lagoa da Conceição.
Estava na boca da noite e já me sentia "bonito", leve, livre. A Lagoa estava diferente naquela noite. Mais luminosa...sei lá. Fiz a via-sacra de costume. Encontrei amigos em todos os bares e com todos bebi e me despedi. Acabei na casa do meu querido amigo Gato. No Canto da Lagoa. Cheguei com uma garrafa de champagne e a festa já estava andada. Ficamos numa conversa interminável sobre bebidas, arquitetura, música, viagens - ele havia estado no Chile há pouco - vírus e doenças afins. Foi uma noite muito agradável!
A morte no mercado
Acordei no domingo um pouco mais tarde que o habitual. Senti uma leve pressão...na consciência, fruto da intensa despedida, talvez.
Abri os olhos, olhei para o teto inclinado do meu quarto e entre as várias tentativas de reconstruir o que havia acontecido na noite passada escutei:
- Foi boa a despedida, heim? O Milton ligou preocupado. Quer falar contigo. Era a Gisa enchendo a minha bola de bom festeiro e passando a agenda. Minha amada!
Levantei, fui até a janela e olhei para o dia maravilhoso de sol com o mar do Campeche na frente da minha janela e tive a impressão de que algo havia mudado. Parecia estar em outra dimensão. Mas no fundo, no fundo, acho que era uma ressaquinha mesmo que me dava esta nova visão da vida.
Liguei para o Milton Ostetto, meu querido amigo e colaborador do blog. A conversa foi muito punk! Engraçada!
- Como é que tu estas Canga????!!!!! Perguntou um pouco apavorado.
- Estou bem Milton, mas por que?
- Cara, me falaram ontem no Mercado Público que tu estava doente, muito mal! Tentei falar contigo mas o telefone estava desligado. Fiquei mais preocupado ainda!
Pronto! Haviam me matado no Mercado! Ali é caixão pro Billy! Falei para o amigo que estava tudo bem, que apenas um vírus da "C" havia despertado e que faria alguns exames e começaria um tratamento. Disse, também, que havia parado de beber...há algumas horas. Acho que acalmei-o.
Parar de beber está sendo maravilhoso. Ao contrário do que imaginava, existe vida alegre do outro lado do balcão. Estou mais produtivo, sobra mais grana, a minha conta na Kibelândia chega a ser uma piada. Enquanto meus amigos pagam R$ 15, R$ 20, eu pago R$ 5,00.
A minha maior preocupação era como produzir serotonina sem a pilha do álcool. Essa é minha maior característica. Sou ligado! Movido a grandes doses de serotonina. Bobagem! Se produz ligaçãode várias formas. Mas acho que é importante manter a rotina, apenas tirando o álcool. Continuo trabalhando na Kibelândia diariamente, meus amigos bebem normalmente e nada disso está me chateando, até agora. As caminhadas matinais de 1 hora e meia são uma maravilha e meu filho, Jerônimo, que trabalhou anos em Londres como barman já me preparou um menu de cocktails sem alcool. Um luxo! (arg!)
Resumo da ópera
Bem, a partir daquele domingo não bebi mais, retomei as caminhadas matinais de 9 km, estou diariamente no trajeto Rua da Capela, Av. Pequeno Principe retornando à Igrejinha do Campeche via Pau de Canela. Quem quiser se integrar a caminha da saúde (ehehehehe) será bemvindo com direito a informações sobre o tratamento para matar o bixo. Estou versado sobre o assunto, dou consulta, só não dou receita...ainda.
Ah! Sobre cirrose, nódulos e câncer, nada disso se confirmou. Os exames todos negativaram e apenas o vírus da hepatite "C" cordou. Assim que estou de vida nova pronto para enfrentar um novo desafio bem ao meu estilo.
Tomar bebidas não alcoolicas tem as suas vantagens. Começo logo cedo com um Blood Mary.
Cheers!
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